“Você diz que vai saber quando encontrar o cara certo
Mas é difícil dizer com o dano que foi feito”.
Narrado por Miley
- Miley, vamos! Já estamos atrasados... – Liam reclamava da
sala enquanto eu tentava dar um jeito no meu cabelo com algum penteado
improvisado dentro do quarto.
Olhei para o espelho e não me senti completamente satisfeita
com meu reflexo, mas acho que seria o melhor que eu conseguiria fazer hoje.
Eu sabia que estava trabalhando demais, pois as olheiras não
me deixavam esquecer. O meu aspecto cansado foi um pouco disfarçado pela
maquiagem, mas ainda estava ali, podendo ser notado por qualquer olhar mais
atento.
Por sorte eu sempre fui uma mulher prevenida e tinha uma
roupa decente para essa ocasião. Só que eu estaria mentindo se dissesse que se
quer lembrei que essa bendita confraternização da empresa do Liam estava
marcada pra hoje.
- E a babá pra Jollie, já chegou? – Saí ao encontro do meu
esposo ainda colocando os meus brincos.
- Já. Elas subiram pra escovar os dentes e colocar a Jollie
na cama.
- Tá bem, eu vou só dar um beijo de boa noite e já volto.
- Não é preciso isso, amor... É melhor a gente sair de uma
vez ou só chegaremos lá quando a festa já tiver acabado! – Liam pegou o meu
casaco e me afastou das escadas, levando-me em direção a porta.
Liam dirigiu rumo ao local marcado para a confraternização.
Conversamos sobre coisas triviais, durante uma meia hora de transito até lá.
Quando descemos do carro, ele foi gentil e abriu a porta pra mim, mas eu fiquei
esperando por um elogio que não me foi feito.
Cumprimentamos algumas pessoas assim que chegamos. Eu não
conhecia muitos dos colegas de trabalho de Liam. Pra falar a verdade, não
conhecia quase ninguém no local, exceto por Oliver e Lilian, que eu conhecia
bem, pois eram meus amigos pessoais. Havia estudado todo o high scool com a
Lilly e o Oliver nós conhecemos depois, na época da faculdade. Os dois eram
aquele típico casal que parece que não tem nada a ver um com outro, mas que
quando estão juntos, se dão super bem e se completam. Obviamente eles levaram
muito tempo pra perceber isso e iniciar um relacionamento sério, mas ambos
estavam radiantes desde que Oliver a pediu em noivado há uma semana.
- Miley! – Lilly veio até mim me convidando para um abraço.
- Oi Liam. – Ela o cumprimentou também - Vocês demoraram! – Comentou – Seu
chefe já veio perguntar por você um milhão de vezes.
Liam lançou-me o olhar de “eu te disse” antes de se afastar
e sair à procura do chefe.
- Amiga, você está linda! – Elogiou-me.
- Finalmente alguém notou! – Resmunguei servindo-me de uma
taça de vinho.
- Não tem como o Liam não ter notado, My! – Ela riu
bebericando um pouco do líquido em sua própria taça.
- Bom, se ele reparou, não disse nada! – Revirei os olhos –
Às vezes eu sinto como se fosse invisível, completamente transparente pra ele.
– Suspirei – É como se eu não o despertasse mais nenhum tipo de desejo, nenhuma
emoção, sabe? Comigo o assunto é apenas trabalho, coisas de casa e a Jollie.
- Eu acho que isso é normal, quer dizer, vocês estão casados
por mais de sete anos. Deve ser normal que depois de tanto tempo o relacionamento
esfrie. – Ela deu de ombros
- E o que eu devia fazer sobre isso?! Deixar pra lá e viver
o resto da minha vida como se eu não precisasse de sexo ou romance?! - Indaguei
- Espera, vocês não fazem mais sexo?! – Foi somente essa
parte que ela captou e eu tive ainda mais certeza que a minha melhor amiga era
um homem preso no corpo de uma mulher.
- Digamos que eu posso contar nos dedos de uma única mão,
todas às vezes esse ano! – Cochichei, pois eu sentia vergonha de admitir
aquilo, mesmo pra ela.
-Nossa! Bom, isso é realmente preocupante... – Ela fez uma
careta assustada e eu bebi o resto da minha taça em uma única golada por não
ter mais o que dizer. Só que Lilly continuava impaciente, como se quisesse
dizer alguma coisa e estivesse ponderando se devia ou não - Ai, é que tem uma
coisa que eu não sei se devia te contar, porque talvez isso não seja nada e nem
tenha na a ver. Talvez seja só coisa da minha cabeça, mas é que a nova
secretária do escritório dos rapazes, ela é...
- Olá, Lilian! – A mulher que se aproximou da gente era
maravilhosa. Era alta e dona de um corpo espetacular. Ela trocou um cumprimento
com a minha amiga e então se direcionou a mim – Você deve ser a Miley, a esposa
do Liam, certo? –Estendeu-me a mão - Sou Kate. Trabalho com seu marido no
escritório. Sou a secretária executiva da firma. – Ela sorriu e Lilly a olhava
com certo desdém comedido – É um prazer finalmente conhecer você. O Liam não
para de falar de você e da sua filhinha, Jollie, certo?
- Isso! – Respondi, ainda juntando as informações repassadas
por Lilly e a visão dessa mulher que parecia muito mais uma das coelhinhas da
play boy do que uma secretária.
- Se ela puxou aos pais, deve ser linda. – Elogiou - Foi um
prazer finalmente te conhecer, Miley! – Ela disse, mas eu não acreditei em uma
só palavra.
- O prazer foi meu. – Menti também
A secretária se afastou.
- É ela! – Lilly sussurrou e eu entendi o que ela estava
tentando me dizer e por quais motivos.
Segui a mulher com os olhos e a vi se aproximar do meu
marido. Havia algo na forma como ele sorriu quando ela cochichou alguma coisa.
Oliver veio até onde estávamos e nós três começamos uma
conversa casual. Não tirei os olhos de onde estavam o meu marido, a secretária e
mais alguns colegas de trabalho.
(...)
- A Kate parece uma ótima pessoa... Ela é muito bonita. –
Disse tirando as joias e colocando-as no porta-joias. Observei-o pelo reflexo
do espelho.
- É? Eu nunca reparei nisso. – “Claro que não! ” Revirei os
olhos por sua mentira deslavada.
- Engraçado, você nunca me falou dela. – Virei-me e Liam
estava afofando os travesseiros. Já havia se livrado de sua gravata e a camisa
social estava quase que totalmente aberta.
- Ah, ela é só uma nova colega de trabalho, não achei que
fosse importante. – Deu de ombros, mas eu senti uma pontinha de nervosismo na
sua voz.
Entrei no closet para trocar de roupa e ele veio atrás de
mim.
- Vocês trabalham muito tempo juntos no escritório? –
Questionei de costas para ele, fingindo procurar por qualquer coisa em uma de
minhas gavetas. Estava fazendo as contas na minha cabeça: oito horas por dia,
cinco dias por semana, quatro semanas por mês.... Isso me parecia tempo
suficiente, mas deixemos que ele mesmo responda.
- Não. Ela é só a secretária executiva da firma, faz alguns
trabalhos administrativos quando solicito. – Eu não o estava vendo, mas só pelo
tom da sua voz sabia que ele estava ficando cheio dos meus questionamentos.
- E ela vai com você pra New York amanhã? – Ainda assim eu
precisava perguntar isso.
- Vai sim, mas ela não vai comigo. É uma viagem de negócios,
Miley. Ela vai pela empresa. - Ele respirou fundo e eu fechei os olhos sabendo
o que viria agora - O que é isso? Por que todas essas perguntas sobre mim e a
Kate? Não está com ciúmes dela, está?
Eu me virei de frente para ele.
- Não é isso! – Eu não iria admitir – É que ela é a sua nova
secretária e você não me falou nada. Absolutamente nada! – Fiz uma curta pausa
- E pra completar ela é uma mulher jovem e muito atraente e eu sei que você não
é cego, Liam! - Esbravejei
- É, mas sou casado! – Ele esbravejou imediatamente em
resposta – Quer dizer que é isso que pensa? Que estou te traindo com a nova secretária?!
– Debochou, como se essa possibilidade fosse simplesmente ridícula. – Bom saber
o quanto você confia em mim!
- Eu não disse isso! – Cortei – Mas achou mesmo que eu não
iria notar?
- Notar o quê, pelo amor de Deus?! – Ele sacudiu as mãos
como se continuar essa discussão comigo fosse um absurdo.
- O jeito como você olhava pra ela. – Mantive o tom baixo e
sério - Passou a noite inteira olhando pra ela, praticamente babando!
- De onde você tira essas coisas?! – Encarou-me – Eu, se
quer, troquei duas palavras com ela!
- Você mente muito mal!
- Talvez por que eu não estou mentindo. Você que está sendo
louca e paranoica! - Ele se arrependeu
de ter dito isso depois de dizer, vi em seu semblante.
Não me importei e o fiz ir dormir na sala ainda assim.
Talvez eu não devesse culpa-lo por se sentir atraído por
Kate, afinal ela é realmente uma mulher bonita e o Liam também é muito
charmoso, obviamente despertaria o interesse de qualquer uma.
O que mais eu poderia esperar?
E nós dois somos casados há tanto tempo! E não é mais como
era antes. Acho que deve ser natural querer alguma coisa nova com o passar dos
anos. Alguma novidade inesperada, que simplesmente aparece em algum momento e
torna a vida excitante e surpreendente de novo...
(...)
“E eu gostaria de dizer que a culpa é sua
Mas eu sei bem”
- Bom dia! – Ele me cumprimentou assim que adentrei a
cozinha. Iria preparar o café, mas ele já havia feito isso – Miley, sobre ontem
à noite...
- Não quero mais falar disso! – Aleguei e fui pegar uma
caneca de café.
- Só quero dizer que não tem nada acontecendo! – Ele se explicou
e eu bebi um gole de café –Nada mesmo! Eu juro!
Ele parecia estar sendo honesto e fez eu me sentir péssima
por acusá-lo.
- Sei disso e me desculpe por ontem! – Pedi e tomei mais um
gole de café. Estava me sentindo muito envergonhada pelo jeito como reagi ao
conhecer sua colega de trabalho.
Louca e paranoica me pareceu a minha descrição perfeita!
Ele se aproximou um tanto inseguro se deveria ou não e me
abraçou. Também me deu um beijinho na testa.
- Tudo bem! – Disse e eu passei os braços ao seu redor o
abraçando. – Tudo bem! – Repetiu a frase e o beijo.
- É só que é difícil pra mim, quer dizer, eu estava grávida
e nós nos casamos cedo demais! – Confessei - Tenho medo que de repente se dê
conta que não era isso que você queria.
- Amor, isso não vai acontecer! – Garantiu – E para com essa
besteira de pensar que a gente se casou cedo demais, quer dizer, você
engravidou e gente teve que adiantar um pouco as coisas, mas era o que nós dois
queríamos fazer desde o começo, não era? - Ele olhou em meus olhos e eu me senti
horrível por nunca ter podido ser completamente sincera com ele.
Às vezes eu queria ser, mas nunca fui capaz.
- Era. – Confirmei com um meio sorriso – Você acha que a
nossa relação ainda é do mesmo jeito? – Toquei seus braços fazendo carinho - Como
quando nos conhecemos?
- Ela está muito melhor! – Ele me ofereceu um sorriso largo –
Nós éramos um casal de jovens impulsivos e inconsequentes e agora somos adultos
responsáveis, temos bons empregos e somos excelentes pais. Pessoas bem
melhores, não acha?
- Acho. - Concordei
Ele olhou no relógio.
- Já está na hora de acordar a Jollie para a levarmos na
escola, depois você pode me deixar no aeroporto? – Pediu e eu assenti
(...)
Paramos em frente à escola primária do nosso bairro. A
Jollie acabara de completar sete anos e é o primeiro ano dela na nova escola.
Liam ia descer pra deixa-la na porta do colégio como todos os dias.
- Cadê o beijo da mamãe? – Pedi antes da minha princesa sair
do carro. Ela me beijou e me abraçou dali mesmo, do banco de trás e quase me
enforcou com tamanho aperto daquele abraço.
Depois que ela desceu deu a mão ao Liam e eu os observei
seguirem juntos até o portão de entrada. Ele era tão maior do que ela, mas
sempre que chegavam ao portão, se ajoelhava para que ela pudesse lhe dar um abraço
e um beijo. Fazia o mesmo todos os dias e era a cena mais fofa do mundo.
(...)
O LAX estava lotado. Ao que parece algum artista estava
chegando a cidade ou alguma coisa assim, e o fã clube aguardava para recebe-lo.
Fomos pro lado oposto ao da multidão. Não vou mentir, despedi-me
de Liam ainda morrendo de ciúmes pela secretária que eu sabia que estaria o
esperando na área de embarque. Provavelmente o meu ciúme era sem nenhuma razão,
mas ainda assim, eu não podia evitar. Não queria arriscar demonstrar algo ou
dizer alguma bobagem antes dele ir pegar o voo, por isso mantive a minha boca
bem fechada.
Como tínhamos alguns minutinhos antes de seu voo, paramos
numa Starbucks para comer alguma coisa. Só que o Liam tinha visto o horário do
voo errado e quando eu fui dar uma olhadinha no bilhete, vi que o seu voo
estava prestes a sair.
- Droga! – Murmurou – Já tenho que ir! – Ele me deu um beijo
rápido e deixou a fila da cafeteria às pressas.
Eu queria ter dito pra ele se cuidar e que daria tudo certo em sua reunião de trabalho...
Queria ter dito que sentiria sua falta...
Queria ter dito que o amava, mas não tive tempo.
Queria ter dito que sentiria sua falta...
Queria ter dito que o amava, mas não tive tempo.
“Porque sou um tolo por pensar
que você iria esperar pra sempre”.
Narrado por Nicholas
E, enfim, de volta pra casa depois de tanto tempo. Apesar
dos últimos anos terem sido incríveis em lugares maravilhosos como Londres,
Paris e outras cidadezinhas das redondezas da Europa, estar de volta em casa
era sempre uma sensação reconfortante.
Não fazia ideia de como as coisas caminhavam por aqui no
“novo mundo”. Sempre fui mais velha-guarda. Ainda prefiro o charme clássico das
coisas antigas em relação as extravagantes novidades, mas conhecendo L.A, sabia
bem que mais dia, menos dia, e veríamos carros voadores cortando o céu claro da
enseada daqui.
E com isso eu até poderia me acostumar.
Fui recebido pelo meu fã clube: o que significa que milhares
de fãs me cercaram assim que eu saí do avião. O LAX tinha estrutura pra esse
tipo de coisa, pois era muito comum artistas embarcarem e desembarcarem aqui, mas
eu nem se quer fazia ideia do tamanho do sucesso da minha banda por aqui. O
nosso último álbum era ainda do ano passado e eu não lançamos nada novo desde
então. Por isso não achei que seria tão louco assim por aqui, mas para minha
surpresa eu me deparei com um mar de pessoas segurando cartazes e gritando o
meu nome.
(...)
Resolvi parar pra tomar um café ainda no aeroporto, pois
estava cansado da vigem e queria me sentir um pouco mais desperto.
O destino as vezes é mesmo engraçado. A última cena que eu poderia
imaginar que iria ver aqui quando voltasse, foi justamente uma das primeiras...
“Talvez eu pudesse ter te amado”
Um beijo.
Era ela. Era a Miley, reconheci imediatamente. Por mais que
os anos tivessem se passado e ela estivesse um pouco diferente da última vez
que eu a vi pessoalmente, ela tinha algum tipo de magnetismo único que sempre
iria atrair o meu olhar e me fazer poder reconhece-la em qualquer situação. E
também eu era bem discreto quanto a isso, mas acompanhava um pouco da sua vida
através das redes sociais, sem falar que nós ainda mantínhamos amigos em comum
e as pessoas sempre acabam falando bem mais do que deviam.
O cara com ela era o marido, disso eu sabia. Ela agora é
casada e tem uma filha, Jolene Cyrus, acho que era esse o nome.
Era difícil pra mim pensar nela como uma esposa e mãe,
porque ela nunca me pareceu o tipo de garota que sonhava com essas coisas, mas
agora essa é exatamente a vida que ela tem.
O homem saiu apressado, enquanto eu ainda estava imaginando
se ela ao menos se lembrava de mim.
Teria sentido a minha falta em todos esses anos?
“Talvez eu pudesse ter demonstrado
Que ainda me importo com você
Mais do que você poderia saber”.
Talvez eu não devesse aparecer em sua vida novamente. Talvez
fosse um erro ir até ali e dizer-lhe qualquer coisa casual, que não revelaria
realmente como me sinto em vê-la outra vez. Ainda assim, eu queria ter a chance
de pelo menos cumprimenta-la e saber que ela está bem.
Que está tudo bem.
Aproximei-me dela.
- ... Por favor, um cappuccino diet e um muffin. – Ela fazia
o seu pedido tradicional. Se quisesse poderia lembrar de diversas vezes em que
saímos pra tomar café e ela repetiu esse mesmo pedido em todas elas.
A atendente lhe entregou o pedido e eu esperei que ela
virasse e me visse. E ela virou, me encarou por quase um minuto sem dizer nada.
- Nick?! – A surpresa não estava estampada em seu semblante
mais do que em seus olhos.
- Oi! – Cumprimentei o mais casualmente possível, mas não
consegui conter a vontade de abraça-la, e seguindo o meu impulso, fiz isso.
A melhor parte disso foi a maneira como ela correspondeu. Ainda tinha aquele mesmo cheiro bom de roupas limpas e
um perfume floral adocicado que eu não lembrava o nome, mas havia memorizado
bem o aroma.
- Nossa! Você por aqui?! – Ela estava sorrindo e eu fiquei
um pouco distraído olhando – Eu não posso acreditar!
- Pois é, faz tempo né? - Também sorri – E como você está?
- Bem! Estou ótima, mas... E você? Desculpa, mas o que veio
fazer aqui? – Quis saber.
- Só dar uma passada pra rever a família. Nada demais.- Fiz
uma pausa rápida e dei uma olhada em seu rosto. Seus olhos, o sorriso, como eu
poderia esquecer? – Olha só, nós bem que podíamos marcar alguma coisa, só pra
gente conversar, ou sei lá. – Tentei fazer o convite soar o mais casual
possível. Até agora eu não achava que fosse vê-la durante essa viagem, pelo
menos, dadas as atuais circunstâncias, eu não iria procura-la, mas aí de
repente eu a encontro aqui e eu senti como se a vida estivesse me dando uma
oportunidade de passar algum tempo junto com ela.
Ela hesitou um pouco antes de responder.
- Tá legal, acho que pode ser! – Ela concordou um pouco sem
jeito. - Vai ficar até quando?
- Até amanhã.
- Por que vai embora tão rápido? - Questionou
- É que estou trabalhando num álbum novo e vamos começar a
gravar na segunda. – Contei – E então, tem tempo pra almoçar mais tarde, ou melhor,
pra jantar? É que provavelmente a minha mãe vai querer que eu fique em casa pra
almoçar com a minha família.
- Tudo bem. – Ela concordou – Pra mim também fica mais fácil
sair pra jantar. É que o meu marido acabou de ir viajar e eu vou fazer o almoço
em casa pra minha filha. – Ela disse de maneira casual, quase automática. Ainda
assim foi uma sensação incomoda pra mim ouvi-la mencionando uma família - A
gente pode combinar em algum restaurante no centro.- Sugeriu
- Ok, então eu ligo pra confirmar o local e posso ir te
buscar se quiser.
- Acho melhor a gente se encontrar no local.
- Tudo bem. – Concordei.
- Então, vou esperar você ligar... Aliás, preciso te passar
o meu telefone.
- Não, eu ainda tenho! – Admiti – Você não mudou de número,
né?
- Não.
- Pode deixar, eu ligo!
- Tá.
Nos despedimos e eu fiquei a vendo ir embora. Havia um
turbilhão de pensamentos em minha mente, tanta coisa que eu queria dizer, tantas
que eu queria ouvir também, mas talvez nenhum de nós fosse ter coragem de tocar
nisso hoje.
Seria só um jantar entre amigos, ou melhor entre conhecidos.
Talvez, depois de tanto tempo, um jantar entre absolutos estranhos.
(...)
“Não diga que é tarde demais pra tentar
Pra fazer isso direito.
Pra fazer tudo certo”.
Narrado por Miley
- ELE TE CHAMOU PRA SAIR?! – A boca da Lilly estava aberta
em ultraje – Ele sabe que você é casada, né?!
- Lily, ele me chamou pra jantar. –Expliquei novamente - Não
é como se fosse pra ser algo romântico nem nada assim, é só pra conversarmos.
Revirei os olhos selecionando alguns dos vestidos em meu
closet.
- Ah, tá. Vai me dizer que o seu ex-namorado do colégio, que
por acaso agora é um astro do rock, lindo, extremamente gostoso e que era o
grande amor da sua vida simplesmente reaparece, te convida pra sair de novo e a
única intenção dele é conversar com você... Você acha que eu nasci
ontem, Miley?
- Eu sou uma mulher casada, Lilian, e tenho uma filha. O Nick
sabe disso. Ok, ele é meu ex-namorado, o que não significa que não podemos sair
pra jantar apenas como amigos! – Defendi-me, mas ficava bem difícil fazer isso
enquanto estava mais preocupada em escolher a roupa certa para a ocasião.
- Ok! Ok! – Ela me encarou – Eu finjo que acredito nisso, mas
você sabe que esse encontro, ou jantar, ou seja lá o que for, com o seu apenas
amigo, pode acabar sendo um grande erro, né?
– Nós não temos
nenhuma segunda intenção, Lilly. Pelo menos eu só quero, sei lá, falar com ele
de novo. – Confessei – Faz tanto tempo desde a última vez que nós conversamos e
nós éramos tão próximos antes e acabamos nos distanciando depois que “você sabe
o que” aconteceu. Às vezes, eu só... sinto a falta dele. – Eu respirei fundo – Ainda
penso nele de vez em quando, e não é que eu não ame o Liam, eu o amo, muito.
Mas o Nick é, ele sempre será, aquela pessoa que eu nunca vou conseguir
esquecer completamente, entende?
Ela assentiu.
- E é exatamente por isso que eu continuo achando sair com
esse cara é uma decisão perigosa!
A Lilly era a minha melhor amiga há muito tempo. Ela sabia
parte da minha história com Nick. A parte que quase todo mundo conhecia: Que
nós namoramos e que não deu certo. Mas não sabia o que houve entre nós que me
fez desistir da relação. Essa parte ninguém sabia, nem mesmo o próprio Nick. No
entanto, eu precisei admitir como me sentia em relação ao meu ex-namorado agora,
ou iria explodir.
- Eu estaria mentindo se dissesse que não sinto
absolutamente nada por ele. – Tentei aparentar que o que eu sentia por Nick era
bem menos significativo do que realmente era – Mas eu sei bem que abri mão dele e quem eu
escolhi e foi o Liam.
Os olhos inquisitivos de Lilly permaneciam sobre mim, mas
ela desistiu de tentar provar o seu ponto.
- Usa o azul. – Ela sugeriu – É bonito e discreto. Você vai
estar fabulosa, mas não vai passar a ideia errada pro seu “amigo”.
- Você toma conta da Jollie pra mim? – Pedi
- Tá! –Concordou meio que contra a própria vontade - mas e
se o Liam ligar pra cá?
- Não se preocupe, ele não vai.
(...)
Narrado por Nick.
O almoço com a minha família tinha sido ótimo e agora todos
estávamos reunidos conversando trivialidades. Meus irmãos também tinham vindo
passar o final de semana e a minha mãe estava muito satisfeita por finalmente
ter a família toda reunida aqui em casa novamente.
- A gente pode marcar alguma coisa a noite. Sei lá um
barzinho ou uma boate. Tô precisando conhecer umas meninas legais e você
também! – Joe comentou e eu ri.
- Pode ser. – Concordei
- A gente sai cedo, come alguma coisa por aí e depois decide
aonde ir.
- Já tenho planos para o jantar.
- Ah é, e com quem, pegador? – Eu queria não dizer nada, mas
o Joe era o cara mais insistente do mundo. É bem verdade que eu também poderia
mentir, mas por algum motivo que nem mesmo eu sabia qual, queria a opinião dele
sobre o que eu estava prestes a fazer.
- Com a Miley.
- A Miley? Aquela Miley? A sua... – Ele não completou e eu
assenti confirmando que era mesmo ela. –
Cara, ela não está casada?
- A gente vai sair pra jantar, Joe, não pra ir a um motel.
- Eu sei mas, cara, isso é... Isso não é “perigoso”?! - Perigoso era a definição perfeita.
- Vamos comer e conversar um pouco. – Dei de ombros - Tivemos
uma relação no passado que não deu lá muito certo, não significa que não
podemos ser amigos. – Não sei se fui exatamente convincente, mas serviu para
deixar o Joe menos paranoico pelo menos.
- Beleza. Então quando terminar de jantar com a sua “amiga”
você me liga pra gente se encontrar.
- Tá.
(...)
“Eu não sabia quão boa você era pra mim
Agora é claro que estou vendo tudo o que poderia ser
E eu sei que a culpa é minha”.
Saí a pé pra dar uma volta no bairro. Los Angeles era bem
grande e talvez dar uma volta de carro pela cidade teria sido uma opção bem
menos nostálgica, mas eu queria ver como estavam as coisas depois de tanto
tempo longe.
Tudo parecia exatamente igual, mas ao mesmo tempo, andar por
aqui dava uma sensação diferente do que eu costumava sentir. Eu costumava
gostar bem mais de estar em casa.
A casa dos meus pais era a mesma que eu morava quando era um
adolescente. Foi o primeiro lugar que moramos quando viemos do Texas pra Los
Angeles e nunca mais quisemos nos mudar. A minha mãe porque adorava o bairro e
eu porque tinha um motivo bastante especifico pra querer ficar.
Eu desci a rua e avistei a Miley chegando em casa com a
filha e ali estava o meu motivo.
E também era por isso que eu nunca fazia questão de voltar
pra casa agora.
Ela também ainda estava morando na sua antiga casa.
Caminhei mais rápido para alcança-las antes que entrassem.
- Oi! – Cumprimentei assim que me aproximei.
- Oi Nicholas! - A Miley sorriu e a pequena miniatura dela
ao seu lado me mostrou um par de olhos desconfiados. – Diga oi, filha! – Ela
incentivou.
- Oi! – Disse timidamente.
-Você deve ser a Jolene, não é? – Perguntei-lhe
- Sou, mas me chama de Jollie. – Ela pediu. A pequena tinha olhos tão azuis
quanto os da mãe e lindos cabelos castanhos cacheados. Parecia travessa, mas
era tímida demais pra soltar a mão da mãe enquanto era apresentada a um
estranho.
- Ela não gosta muito de Jolene. – Miley explicou – O que é
uma pena, porque é um nome lindo!
- Não é não! – A menina reclamou
- Eu acho bonito! – Interferi – Foi você que escolheu? – Perguntei
a Miley e ela assentiu. Jollie revirou os olhos e eu achei a cena engraçada –
Combina com você. – Afirmei e a menina ficou ruborizada de vergonha.
- Estava na casa dos seus pais? – Miley questionou e eu
assenti.
- E você não abandona mesmo esse bairro, né? – Comentei
- Meus pais voltaram pro Tenesse e iam vender a casa... –
Deu de ombros – Além do mais esse bairro é ótimo!
- Ei, eu sei quem você é! – A pequena disse pra mim e eu
fiquei curioso – Você é aquele cantor daquela banda que a mamãe gosta.
Revezei olhares entre ela e a Miley.
- A sua mãe gosta da minha banda? – Questionei e notei que a
Miley havia ficado completamente sem graça pelo comentário da filha.
- Ela gosta! – Jollie afirmou – Ela sempre ouve as suas
músicas e assiste você na tv!
- É mesmo? – Não pude evitar sorrir - E sabe qual é a música
favorita dela?
- humm... Acho que é aquela que diz pra virar à direita! –
Contou e eu sabia exatamente qual era: Turn Right.
- Tudo bem, eu até gosto dessa música, mas eu não tenho uma
favorita! – A Miley interrompeu - Todas são boas, quer dizer, com exceção ao
último cd! – Miley reclamou
- O que tem de errado com ele? - Questionei
- Bom, nada. Mas me sinto na obrigação de te dizer que
algumas músicas estavam meio piegas! Desculpe, só estou dando a minha opinião
sincera.
- Ah tá, então me acha piegas?
- Sinceramente?
- Ok! Não precisa responder.
- Mamãe, a gente não ia tomar sorvete? – Jollie pediu a mãe.
- Sim, a gente já vai! Vai lá dentro guardar sua mochila. –
A Miley ordenou e a pequena correu pra dentro da casa.
– Ela parece com
você. - Comentei
- É mesmo, né? – Ela sorriu acompanhando a pequena com os
olhos – Ela foi a melhor coisa que já me aconteceu.
Soube imediatamente que ela devia ser a melhor mãe do mundo,
e a mais linda também.
- Se importa se eu for tomar sorvete com vocês? – Perguntei
e a Miley disse que não tinha problema eu acompanhá-las.
(...)
Não fizemos nada demais, nem tocamos em nenhum assunto
delicado, até por que não poderíamos fazer isso com a Jollie por perto, mas
pelo menos eu pude saber um pouco mais sobre a vida cotidiana dela e conhecer
um pouco melhor a sua filha, que era uma garotinha encantadora, assim como a
mãe.
Nunca havia considerado a possibilidade de formar uma
família algum dia, mas aí estava a ideia absurda dançando em minha mente. Algo
em estar aqui essa tarde, com a Miley e a filha, me fez invejar alguém que eu
nem conhecia. Senti inveja do tal marido e pai. Por um momento, quis ter o
poder de roubar-lhe aquela vidinha simples que ele levava ao lado das duas.
Devia ser uma vida igualmente comum e maravilhosa.
E teria sido bom poder experimentar isso ao lado da mulher
que eu amo, mas iria ter que ficar só na vontade pois agora ela já realizou
isso com outra pessoa.
Voltamos pra casa dela e a Miley confirmou que me
encontraria mais tarde num restaurante daquele bairro pra jantarmos.
Estava ansioso e nervoso com aquele encontro. Tínhamos duas
opções: Fingir que nada havia acontecido e apenas jantar sem tocar em nenhum
assunto do passado, como duas pessoas adultas que seguiram com suas vidas e
tinha a segunda opção, que era fazer exatamente o contrário.
Eu queria falar do passado. Por Deus, eu precisava falar!
Queria entender por que ela simplesmente acabou com tudo o que tínhamos e
construiu a sua vida ao lado desse cara que ela mal conhecia...
Como pode me esquecer tão rápido?
Ao mesmo tempo eu não queria dizer nada. Não queria
demonstrar nenhum tipo de fraqueza e eu estava enlouquecendo em decidir que
rumo tomar.
Quase me arrependi de ter voltado a Los Angeles...
Eu estava vestido e pronto para o bendito jantar, embora
tivesse acabado de anoitecer. Sem saber direito o que fazer, fui até o quarto
do Joe, em busca de algum tipo de conselho ou qualquer coisa que pudesse me
ajudar a enfrentar essa noite.
Meu irmão estava jogando videogame e bebendo Coca-Cola, o
passatempo preferido dele.
Sentei em sua cama e tive certeza que ele ignorou minha
presença de propósito.
- Eu acabo de conhecer a filha dela, Joe. – Contei
- A filha de quem? – Sua atenção ainda estava na tela.
- A filha da Miley.
- A Miley tem uma filha?
- Tem. Uma menina linda de apenas sete anos. O nome dela é
Jollie. – Respirei fundo trazendo o rosto da pequena a memória mais uma vez.
- Viu só o que eu disse? Está aí a parte perigosa... – Ele
deu pause no jogo pra vir falar comigo – Olha, você sabe que eu sempre adorei a
Miley. Naquela época ela foi a melhor coisa que aconteceu pra você e ela era
bonita, divertida, inteligente, adorava o meu senso de humor. Resumindo: A
namorada perfeita. Só que agora ela é casada com outro cara e isso que você tá
tentando fazer, seja lá o que for, não vai dar certo.
- Eu sei!
- Não, não sabe. – Ele suspirou – Você nunca foi casado,
Nick. Não sabe como é! Você até pode conseguir faze-la relembrar do passado
essa noite, mas ela tem toda uma vida aqui. Uma casa, uma família, a filha e
essa vida é uma vida da qual você não faz mais parte.
- Então acha que eu devia abrir mão dela? – Eu olhei o meu
irmão nos olhos e ele me encarou de volta.
- Você já abriu mão dela, cara. – Deu um tapinha no meu
ombro – Fez isso no momento em que deixou ela sair da sua vida de vez.
(...)
“Eu sei que a culpa é minha
Mas eu vou trata-la melhor
Porque se eu tivesse um desejo
Você ficaria comigo pra sempre”.
Narrado por Miley
Eu cheguei ao restaurante e encontrei o Nick me esperando no
bar. Eu estava um tanto ansiosa com esse encontro e queria que ele me achasse
tão bonita quanto eu devia ser em suas lembranças de quando namorávamos, talvez
por isso tenha me esforçado tanto pra não deixar transparecer que tinha me
esforçado demais.
A Lilly havia aprovado cada peça que eu estava vestindo então
eu confiei que havia feito as escolhas certas, mas por dentro eu estava em
pânico. Não sabia como agiríamos, ou se poderíamos realmente ter uma conversa
como amigos depois da forma como o abandonei há anos atrás.
Talvez ele ainda me ressentisse.
Ou talvez não fizesse mais a menor diferença pra ele.
Aproximei-me e ele ficou de pé pra me receber.
- Você está linda!- Elogiou-me. Beijou minha bochecha muito
próximo da boca e deixou a ponta de seu nariz deslizar por minha pele.
O meu coração ficou acelerado. Ele tinha um cheiro tão bom,
acho que é por que era familiar.
- Obrigada! – Sorri um pouco sem graça pelo elogio e o beijo
- Você me pegou de surpresa essa manhã.
- Não se preocupe, você estava tão linda quanto agora. – Ele
me guiou até a mesa e nos acomodamos.
Seu olhar sobre mim, me lisonjeava e incomodava na mesma
medida.
- O que foi?
- É que fazia tanto tempo que eu não te via... – Disse um
pouco sem jeito - Você está diferente.
- É, eu sou mãe e estou mais velha! – Rolei os olhos pegando
o cardápio.
- Não, não é nada disso! – Ele riu – O seu cabelo está
loiro! Ficou bonito, eu gostei. - Passou os dedos nos meus cabelos,
colocando-os para trás dos ombros um movimento relaxado e desenvolto. Como se
ainda estivesse acostumado a ter meus cabelos nas mãos.
- E você ficou careca! – Disse e rimos. Ele tinha cortado o
cabelo muito baixo, quase raspado, mas pra quem tinha aquele monte de cabelo,
ele estava praticamente careca mesmo.
- Nunca ouviu aquela frase: É dos carecas que elas gostam
mais?
– Eu no seu lugar
deixaria voltar a crescer. Aposto que nesse caso, elas iriam preferir os
cachinhos, eu gostava bem mais.
- Eu também, mas dava muito trabalho. Você sabe, hidratação,
cremes e essas coisas todas – Ele brincou - Vou pedir uma bebida pra gente.
- Não posso, sei que amanhã é domingo, mas eu tenho trabalho.
- Tudo bem. – Ele chamou o garçom e fizemos nossos pedidos.
- E como vai no trabalho? - Perguntei
- Bem, temos uma meia dúzia de músicas piegas pra começar um
novo cd. – Ele estava sorrindo. Seu sorriso era o que eu mais gostava, era
gostoso e relaxado.
- Para com isso! – Pedi - É sério quanto ao novo cd?
- É. – Afirmou - E agora que eu sei que você é uma das
nossas maiores fãs, assim que ficar pronto eu vou te mandar uma demo de presente.
- Eu vou cobrar isso! – Aleguei.
Ele procurava desculpas para me tocar sutilmente e eu não o culpava, pois minhas mãos também queriam um pretexto para toca-lo de alguma forma.
Ele procurava desculpas para me tocar sutilmente e eu não o culpava, pois minhas mãos também queriam um pretexto para toca-lo de alguma forma.
- E você? – Ele quis saber – O que tem feito? – Pareceu
bastante interessado.
- Eu estou lecionando música na minha própria escola aqui. –
Sorri contando – É pequena ainda, mas eu acho... perfeita!
- Eu com certeza vou querer conhecer! – Sorriu - E as suas
composições?
- Eu não componho mais.
- Como assim não compõe mais?
- Eu só não quis continuar... Você sabe, não é fácil e não
dá pra viver só disso então eu decidi fazer alguma coisa mais proveitosa com o
meu tempo.
- Mas você era incrível!
- Eu não era tão boa, você sabe.
- O maior sucesso da minha banda é uma composição sua, Miley.
E segundo você mesma, nossas ultimas músicas são uma piada.
- Eu não disse que eram uma piada! - Aleguei
- Eu sei que são! Sem
você a minha inspiração se foi... – Ficamos em silencio por tempo demais.
Foi aí que uma colega de trabalho se aproximou de mim e me
cumprimentou e eu agradeci mentalmente por isso.
- Miley, boa noite! – Ela olhou para o Nick com certa
desconfiança – Que bom rever você, e o Liam?
A gratidão durou muito pouco.
- Ele está trabalhando. – Respondi sem jeito – Esse é o
Nicholas, um velho conhecido meu dos tempos de colégio.
A mulher também cumprimentou o Nick e ela estava dando uma
boa olhada nele. Reconheceu que ele era exatamente quem ela achava que ele era
e pediu um autografo e uma foto.
Não seria um autêntico jantar com o Nick Jonas se não
tivesse uma tiete. E depois mais umas dez tietes aproveitaram o gancho da
primeira. Tanto que os nossos pratos chegaram e eu comecei a comer sozinha.
Revivendo uma cena comum de anos atrás.
- Me desculpa por isso, é que é tão chato negar esse tipo de
coisa pra alguém...
- Tudo bem, não me incomoda. – Menti – Posso perguntar uma
coisa pessoal?
- Pode.
- Está saindo com alguém? – Ele parou de comer e eu
continuei – Vi fotos suas numa revista com uma top model. Ela era linda, vocês
ficaram realmente ótimos nas fotos.
- O nome dela é Olivia, não somos exatamente um casal. – Deu
de ombros - A gente só sai de vez em quando.
- Huhum... – Enfiei comida na boca pra não comentar mais
nada.
- Se eu não te conhecesse bem, diria que está com ciúmes! –
Ele me olhou sério, mas riu em seguida e eu o acompanhei.
- Eu acho que já faz um tempo que perdi o direito de sentir
ciúmes de você. – Falei meio sem pensar e por isso comi um pouco mais, pra ocupar a minha boca grande.
Seria tão mais simples fazer isso se ele só não fosse a
pessoa que mais amei em toda a minha vida. Se ele não tivesse essa voz e esses
olhos que me hipnotizam tão facilmente.
A vida é mesmo uma caixinha de surpresas. Eu acordei essa
manhã e não sabia nada dele e agora ele simplesmente está aqui e eu me sinto
como se tivesse 17 anos outra vez.
(...)
“Talvez eu pudesse ter te amado
Talvez eu pudesse ter demonstrado
Que ainda me importo com você
Mais do que você poderia saber”.
- Foi bom rever você – Disse me despedindo dele com abraço
rápido.
Felizmente, tudo tinha corrido bem. Nós dois optamos por não
falar do passado e no fim isso foi melhor desse jeito.
Coloquei o meu casaco e o Nick me acompanhou até o
estacionamento. Chegamos ao meu carro e ele abriu a porta pra mim.
E era isso. Ele iria embora amanhã e talvez eu não fosse
revê-lo em muitos anos.
De repente eu quis dizer-lhe tudo que eu guardei só pra mim
por tanto tempo, mas esse seria um erro estúpido e eu não disse nada.
Ele ainda estava segurando a porta e eu ia entrar no carro,
foi quando ele segurou meu braço.
Seu toque foi como uma corrente elétrica atravessando todo o
meu corpo.
- Espera! – Pediu - Tem uma coisa que eu preciso saber. –
Ele estava olhando em meus olhos. - Você ainda pensa em mim, Miley? – Perguntou
– Porque eu ainda penso em você. Eu penso em você quase sempre. Sei que não
devia, mas... – Fez uma curta pausa - Não posso evitar. - Concluiu
Fiquei quieta por alguns instantes. Seus olhos castanhos
monitorando cada falha na minha respiração.
- Eu também penso em você. – Confessei.
Era egoísta dizer isso e errado pensar nele desse jeito, eu sabia, mas senti-me
tão aliviada em finalmente admitir isso como há tempos não me sentia.
Ficamos calados e ele soltou o meu braço, mas não desviou o
olhar do meu.
- Me dá uma carona até em casa? – Ele pediu
- Mas e o seu carro?
- Eu vim de táxi.
- Ok.
Eu ia dirigir com ele ao meu lado, logo após admitirmos que
ainda pensávamos um no outro. Não me parecia confortável ficar em silencio e
muito menos era seguro conversarmos sobre nós, então decidi propor uma nova
pauta como assunto.
- E a tia Denise? Como ela está?
- Ela está bem. Mencionou que sempre vê você e a Jollie por
aí.
- É, a gente mora no mesmo bairro então é comum encontra-la
no supermercado ou...- Meu telefone começou a tocar. Olhei rapidamente e vi o
nome do Liam brilhar na tela.
O sinal estava fechado, por isso atendi e coloquei no viva
voz.
- Miley?
- Oi!
- Amor, onde você está? – Perguntou
- Eu saí pra jantar, mas já estou voltando pra casa. Estou
dirigindo agora, então eu posso te ligar depois?
- Tudo bem. Até depois.
- Até.
Desliguei.
Olhei para o lado rapidamente e o Jonas estava mexendo no meu porta
luvas. Ele achou os meus cds.
- A Jollie tem razão, você curte mesmo a minha banda. –
Gabou-se – Tem todos os nossos cds!
- Não quer dizer nada! Também tenho todos os cds do N SYNC e
do Jesse Mc Cartney.
- O que comprova a minha teoria de que você tem o gosto
musical de uma adolescente dos anos 90. – Ele falou e eu ri disso, era a mais
pura verdade, por mais que eu não quisesse admitir.
Ele colocou um cd e eu reconheci a
melodia imediatamente: Turn Right.
Nick havia feito essa música sobre nós, ou melhor, sobre
mim. Sei que soa pretensioso, mas eu apenas o conheço bem demais.
Quando a ouvi pela primeira vez, chorei durante horas. Nick
tinha um dom pra isso, pra transmitir sentimentos através de suas músicas e
fazer com que você pudesse sentir o mesmo que ele quando canta.
“Eu
poderia pegar todas as suas lágrimas
Deixe elas para trás
Ir embora sem uma segunda olhada
De alguma forma eu sou o culpado
Por essa interminável estrada que chamamos
de vida.
Lembrei-me rapidamente da primeira vez que eu o vi tocar. Na
verdade, essa também foi a primeira vez que nos falamos.
Vire à direita
Em meus braços.
Ele e os amigos estavam tocando numa festa de aniversário de
uma garota da minha turma. O Nick era gatinho, mas nem se comparava a hoje em
dia, ainda assim fazia o maior sucesso com as meninas do colégio.
Eu sabia quem ele era: o bad boy guitarrista e descolado. Eu
definitivamente não fazia o tipo dele, mas de qualquer forma, ele também não
fazia o meu.
Vire à direita
Você não estará sozinha
Percebi ele me lançar alguns olhares e achei que estivesse vendo coisas,
mas ele veio falar comigo no fim da festa. Ele foi bastante direto e me chamou
pra sair. Eu disse sim e o que aconteceu depois disso é bem desnecessário ser
contado.
Você pode sair da trilha algumas vezes
Espero te ver na linha de chegada”.
Eu tinha só 16 anos quando me apaixonei perdidamente por
ele. Foi um sentimento intenso e cheio expectativas. Naquela época eu achava
que iria durar pra sempre, que iríamos ficar juntos e ser felizes pro resto das
nossas vidas.
E eu fui feliz.
Eu o fiz feliz.
Foi um tempo muito bom das nossas vidas e se eu fechasse os
olhos eu poderia me lembrar exatamente de como era estar em seus braços.
Conduzindo todos os seus amigos para fora
Você ficará, você não pode seguir
Em breve você estará por sua conta
De alguma forma eu sou culpado
Por esta interminável pista que chamamos de vida.
Quando o Nick começou a tocar por aí nenhum de nós imaginava
que a banda iria ficar famosa. Eles faziam shows pequenos em algumas casas
noturnas da cidade e às vezes não ganhavam quase nada, nem era o suficiente pra
gasolina da van em que traziam os instrumentos. Eles tocavam pelo simples
prazer de tocar e era isso, era diversão.
E eu sempre estava ali com ele, ao lado do seu palco.
Vire à direita
Em meus braços.
Vire à direita
Você não estará sozinha
Você pode sair da trilha algumas vezes
Espero te ver na linha de chegada”.
Aí um dia um agente apareceu e ouviu eles tocando, disse que
tinham futuro. Foi aí que tudo mudou pra gente. O Nick sempre gostou tanto do
que ele faz. Ele era absolutamente apaixonado por música e era talentoso,
sempre soube que ele poderia fazer sucesso pra valer um dia e eu torci e apoiei
sua carreira o máximo que pude. Só que ser a namorada de um cara que leva a
vida com o pé na estrada não era nada fácil, e no fim foram tantas coisas
acumuladas que me fizeram rever as minhas prioridades e perceber que aquele
sonho era o dele, mas não era o meu.
Eu fiz tudo que eu podia
E eu dei tudo
Mas você teve que seguir o seu caminho
E esse caminho não era meu.
Eu tive que ir embora.
Teria ficado se fosse só por mim, mas não pude e fiz isso
por ele também.
Vire à direita
Em meus braços.
Vire à direita
Você não estará sozinha
Você pode sair da trilha algumas vezes
Espero te ver na linha de chegada”.
- Quando você foi embora eu comecei a fazer essa música sem
nenhum motivo especial. Não era pra ser sobre nada e nem sobre ninguém e de
repente quando terminei ela era sobre você. – Ele contou – Queria não ter
precisado fazer uma música sobre isso...
Quis dizer alguma coisa, mas eu não achei as palavras certas
então apenas disse a verdade.
- É a minha favorita! – Disse simplesmente e respirei fundo
juntando coragem pra perguntar o que eu queria perguntar – Nick, você já esteve
aqui outras vezes depois de... “nós”– Eu sabia que não precisava explicar - Por
que nunca me procurou?
- Porque eu não pude. – Ele murmurou sem me olhar – Não
conseguia aceitar te ver casada com outra pessoa antes e acho que ainda consigo
agora.
E um silencio constrangedor se instalou entre nós. Éramos
completamente disfuncionais! Essa ideia ridícula de ficarmos confessando coisas
que nunca deveriam ser ditas...
- Me leva na sua escola de música? – Pediu - Eu quero
conhecer!
- Levo, amanhã antes de você ir viajar...
- Por que não vamos agora? – Insistiu e sem ter um bom
motivo pra negar eu apenas assenti.
- Tudo bem.
(...)
“Não diga que é tarde demais pra tentar
Para fazer isso direito.
Para fazer tudo certo”.
Apertei os interruptores e as luzes se acenderam revelando
um salão lotado de instrumentos com um piano de calda no centro. O meu velho
piano, o melhor presente de aniversário que já ganhei na vida.
Ele tinha me dado aquele piano.
Num dos cantos da sala tinham alguns porta-retratos com
fotos pessoais e o Nick bisbilhotou cada pedacinho do salão.
- E então, o que achou? – Eu quis saber
- Eu gostei – Sorriu – É a sua cara. – Colocou as mãos nos
bolsos parando ao meu lado.
- Dá pra acreditar? Depois de tanto tempo eu ainda quero a
sua aprovação... – balancei a cabeça em completa descrença por minha bobagem.
- Se você apenas soubesse que ainda tem tanta coisa que eu queria de você... – Murmurou e eu senti as minhas bochechas queimando.
Ele notou meu nervosismo e mordeu os lábios como se tentasse conter o resto das
palavras – É exatamente como a gente tinha planejado! – Referia-se ao local –
Só é uma pena que eu não vou poder tocar aqui todos os dias.... Lembra dessa
parte do plano?
Eu lembrava.
- Você sabia que
acaba de estragar esse lugar pra mim? - Desabafei
- Por que tá dizendo isso?!
- Porque esse lugar era perfeito, era o meu lugar especial. –
Dei de ombros e tive a sensação de lágrimas tentando se formar em meus olhos -
Eu sempre vinha aqui e pensava no que você diria. E agora você já esteve aqui e
sempre que eu voltar, vou pensar nessa noite, em você, e agora, aqui, vai estar sempre faltando alguma coisa...
Quis beijá-lo mais que tudo, mas resisti com bravura. A
nossa conversa estava tomando o rumo que eu tentei evitar a noite inteira, ou
que eu tentei chegar a noite inteira, não sei ao certo.
Era o seu olhar que tornava a minha situação realmente
delicada. Ele me olhava daquele jeito e pronto, eu queria estar em seus braços
outra vez.
E seu olhar não me abandonava, mesmo quando eu tentava fugir
ou me desfazer dele. E a culpa era minha
culpa, eu não deveria ter dito o que disse.
Ele não disse nada durante algum tempo.
“Existe algo que eu poderia dizer
Mostre-me como quebra-lo
Portanto, antes de você ir embora
Quero que você pare e me escute agora”.
- Por que não está mais compondo? – Ele questionou e eu
respirei fundo.
- Não tem exatamente um motivo bom pra isso, é só que eu não
consigo mais. Às vezes eu até começo uma melodia e aí não consigo terminar. –
Dei de ombros – Mas está tudo bem, nem todo mundo consegue uma carreira de
sucesso na música.
- Você não é como todo mundo. – Ele correu os dedos em uma
mecha do meu cabelo, colocando-a pra trás da orelha gentilmente – Você tem
tanto talento, Miley. Não deveria desperdiça-lo assim.
- Eu sei que você acha que eu estou errada em fazer só isso,
mas lecionar música é ótimo, e eu gosto. – Disse mesmo sem ter realmente essa
opinião. Não queria contar que não conseguia mais compor porque não havia mais inspiração
alguma.
- Mas está satisfeita? Se sente realizada?
- Uhum. Eu adoro. – Assenti e toquei seu braço em uma
carícia ínfima. – Acho que essa é a minha paixão!
- E você está feliz? – Tocou meu rosto. Mordi meu lábio
inferior, baixando o olhar.
Ele sorriu de minha hesitação, mas estava ficando impossível
não hesitar. Pois não hesitar significava encarar seus olhos por mais tempo do
que era seguro para a minha sanidade.
- Estou! – Ergui a cabeça novamente assentindo.
Ele balançou a cabeça negando.
- É mentira! - Murmurou
- Não, não é! -
Afirmei com toda a segurança que consegui.
- Então me explica! – Ele me desafiou, aproximando-se mais
do que deveria - Me diz como você é tão feliz e ainda sente a minha falta mesmo
assim?!
Essa era uma pergunta capciosa pra qual eu não tinha uma
resposta coerente. Nunca teria porque não fazia o menor sentido.
Estar aqui com ele essa noite também não e no entanto era
aqui que eu estava.
- Isso eu também não sei. – Disse levando a minha outra mão
ao seu rosto numa carícia delicada – Talvez seja porque eu ainda...- Eu não
completei por pura covardia e ele beijou a palma da minha mão.
- Por que não deu certo pra gente? – Indagou
- Sei lá, acho que não era o momento certo. – Essa sempre
foi a minha desculpa, até pra mim mesma - Você precisava levar uma vida na
estrada e se dedicar a sua carreira, sua banda e não era o que eu queria, ficar
de lá pra cá no mundo sem um paradeiro certo. – Essa era de fato uma parte da verdade,
mas isso ele já sabia.
- Podíamos ter tentado um relacionamento a distância então.
– Falou oferecendo um sorriso miúdo.
- Nós? É sério?! - Questionei
- Um monte de gente consegue, se adaptam ou sei lá. – Deu de
ombros – Teríamos feito funcionar!
- Nós não somos do tipo que se adaptaria, nem você e nem
eu... – Neguei e lá estavam elas. As malditas lágrimas pesando em minhas
pálpebras. Os olhos do Nick também estavam marejados embora ele não fosse
deixar-se derramar nenhuma lágrima. Eu não fazia ideia de que havia lhe causado
tanta dor, pois eu nunca quis.
Aliás, foi exatamente isso que eu tentei evitar.
- Não temos como saber, a gente se quer tentou! – A
chateação em sua voz soou claramente – Me diz uma coisa, foi só por isso que
escolheu esse cara? Porque ele estava aqui e eu estava longe?
- Não! Não foi por isso. Eu o escolhi porque me apaixonei
por ele e o amo! – Afirmei e Nick riu sem nenhum humor – Só que eu também ainda
amo você, e eu não queria isso, não queria te amar mais porque esse sentimento é...
É egoísta, errado e absurdo!
- Você me amava antes dele. Foi ele que apareceu depois na
história e de repente eu virei a pessoa errada? – A lógica em suas palavras era
imbatível, mas ele sabia exatamente do que eu estava falando – Não me parece lá
muito justo comigo, não acha?
- Se a gente tivesse tentado não teria dado certo e a gente
teria perdido tudo! - Falei - Até mesmo...
isto. Esse sentimento.
- Não, a gente perdeu isto por causa do seu casamento! – Ele
me acusou e eu senti o meu coração arder em revolta.
- O meu casamento só aconteceu por causa de você, desse seu
jeito! – Dei as costas para ele e me encaminhei para a saída.
Ele foi mais rápido e colocou-se em frente a porta, me
impedindo de passar.
- Diz pra mim então, qual é o meu jeito?
- Esquece! – Revirei os olhos com raiva.
- Não, fala!
- Você é egoísta, Nick. Só se importa com você! – Desabafei
e apontei o dedo em seu peito. – Você está me culpando agora, porque eu
casei com outra pessoa, mas era você que não estava nem aí pro nosso
relacionamento!
- Sabe que não é verdade! – Retrucou - Eu estava lutando pra conseguir algo que era
importante pra mim, devo ter sido negligente algumas vezes, e estúpido e
egoísta e o que mais você quiser, mas eu não sou assim! Além do mais, aquilo
tudo, todo o meu esforço, foi por você também, pela gente! – Retrucou inconformado – Se você tivesse
pelo menos tentado ficar...
- Eu fiquei lá por um ano! – Rebati - Fiquei o máximo que eu
pude, mas queríamos coisas completamente diferentes! - Virei-me tentando evitar encará-lo, mas ele
me puxou fazendo-me virar de volta.
- E o que você queria afinal?! Só me diz! - Implorou
- Eu queria você! – Respondi com raiva - E queria uma vida
normal. Ir pra faculdade com os meus amigos, arranjar um emprego e depois ter
uma família, filhos, essas coisas!
- Você nunca me disse! - Murmurou
- Porque eu sabia que você tinha outros planos! – Respirei
fundo - Você tinha a sua carreira pra cuidar e o nosso relacionamento estava
sendo quase um fardo pra você, você sabe! – Fiz uma pausa tentando pensar
direito no que eu estava dizendo, mas eram tantas coisas que precisavam ser
ditas - A gente nem se via direito e eu só estava lá por você, porque queria
ficar com você...
- E eu queria ficar com você! – Interrompeu-me – Eu só
estava trabalhando demais, era uma fase difícil, só isso. Você não precisava ter
sumido da minha vida daquele jeito!
- Você não entende! Eu tive que fazer isso! – Exclamei –
Droga! Você.... Você quase surtou daquela vez que eu achei que estava grávida. Foi
aí que percebi que as nossas prioridades eram bem diferentes e que não fazia
sentido continuar com aquilo.
- Tá bem, essa parte foi um erro, mas eu fiquei com medo! –
Defendeu-se - Eu estava trabalhando duro com a banda e nós ainda éramos muito
jovens, eu não me sentia pronto! Não significava que eu não iria querer ter
filhos nunca! – Fez uma pausa – Pra falar a verdade, olhando pra você agora e tendo
conhecido a Jollie, eu daria tudo pra que você estivesse mesmo grávida daquela
vez!
Ele estava encarando os meus olhos num misto de dor e
arrependimento que eu jamais conseguiria mensurar.
Foi o mais próximo que já cheguei de lhe dizer toda a
verdade.
“Talvez eu pudesse ter te amado
Talvez eu pudesse ter demonstrado
Que eu ainda me importo com você
Mais do que você poderia saber”.
- Quer saber, agora isso não importa mais! - Murmurei
tentando acabar com essa conversa de uma vez.
- Importa pra mim! – Retrucou num tom revoltado - Importa
porque eu tenho que viver a minha vida sem você e te ver sorrindo nos
porta-retratos, em fotografias com outro cara, numa outra vida da qual eu não
faço mais parte! – Ele suspirou finalmente reencontrando as palavras – Só que
você não me deu a chance de evitar isso, você não me deu nenhuma escolha!
- Eu só não queria que você perdesse a oportunidade de
realizar os seus sonhos por minha causa. – Expliquei – Imagina só se eu
estivesse mesmo grávida e você tivesse deixado tudo pra ficar comigo? Você iria
me culpar por mais que não quisesse, e talvez nunca dissesse nada, mas iria
começar a me ressentir e não iria ser feliz.
- Bom, eu não sou feliz agora, então acho que não mudou
muita coisa! – Cuspiu sarcástico, e eu coloquei a mão em seu ombro tentando
faze-lo compreender o meu ponto.
- Como pode dizer isso? Olha só pra você, conseguiu tudo que
sempre quis! – Disse tentando reconforta-lo e demonstrar o meu orgulho por suas
conquistas.
- É, mas perdi você! - Olhou-me como se quisesse me dizer um
milhão de coisas, mas não disse. Seu sorriso nostálgico me pegou desprevenida,
bem como o toque dos seus dedos acariciando a minha bochecha - Lembra da nossa primeira noite em Londres? –
Estávamos próximos ao piano e ele olhou o instrumento como se lembrasse.
Eu lembrava, poderia refazer cada mísero momento daquela
noite em minha mente.
- Aquilo foi louco! Não dava pra acreditar, né? – Sorri com
a lembrança – Ficamos todos tão eufóricos, eu nem consegui dormir por que...
E então ele me beijou.
Não sei por que fez isso agora, mas como em todas as outras
vezes que fez isso antes, foi natural e espontâneo. Seus lábios nos meus com um
gosto de saudade. Senti suas mãos deslizando em minhas costas, arrastando-me
para o calor dos seus braços. Seu toque pesado, denso sobre a minha cintura,
limitando meus movimentos e me impedindo completamente de recuar.
Não que eu quisesse recuar.
Minhas mãos se espalmaram em seu peito largo, tentando
tocá-lo o máximo que pude. Eu sabia que não era certo, mas eu queria tanto essa
sensação, o gosto, que não me importei.
Quebramos o beijo quando nos faltou o ar.
Nossos corações batendo, quase explodindo dentro do peito.
Seu hálito fresco contra o meu rosto. Os nós de seus dedos
em minha pele. Seus olhos em meus olhos, em meus lábios e no meu corpo.
Eu estava congelada, esperando para descobrir se teria
coragem de ir além e beijá-lo de novo.
- Precisei de você todo esse tempo... – Ele sussurrou
Tocou a testa na minha.
Num único movimento, segurou firme a minha cintura e me fez
sentar sobre o protetor das teclas do piano.
- Por que você precisa tornar tudo tão difícil pra mim? -
Deixei que meus dedos deslizassem por sua boca e seu queixo contornando-os.
- Sabe que eu ainda amo você? – Moveu o rosto, roçando
nossos narizes – Que eu sempre vou amar você?!
- Nick...
- Não, não fala nada! – Pediu baixinho, beijando meu
pescoço. Deslizando seu toque por onde sentia vontade. – Deixa assim, só essa
noite.
Seus lábios tocaram os meus mais uma vez e se encaixaram em minha boca
devagar, carregados de desejo. Senti os arrepios típicos por sua proximidade e seus toques me
causaram vibrações pelo corpo inteiro, fazendo-me perder o fôlego e a razão.
Uma de suas mãos em uma das minhas coxas, por cima do tecido do meu vestido. E as minhas mãos apertando seus ombros e acariciando seu peito e braços, deslizando por cada milímetro do tecido gostoso de sua camisa.
Só que o medo me invadiu quando a sua outra mão foi para
as minhas costas e desceram o zíper do meu vestido.
Eu queria os beijos, queria os toques inocentes, mas aquilo
pareceu ir longe demais. Eu não poderia
cruzar aquela linha com ele. Se cruzasse, então não teria mais volta.
- Espera, para! – Pedi recobrando a razão – Desculpa, mas
não posso! – Murmurei - Estaria mentindo se dissesse que deixei de sentir o que
eu sentia por você. – Olhei em seus olhos – Acho que é o tipo de coisa que não
dá pra apagar. – Engoli seco com seus lábios próximos aos meus – Mas não posso
fazer isso! Não posso ir além com você e depois olhar nos olhos do meu marido
como se nada tivesse acontecido. Não sou esse tipo de pessoa.
Nick respirou fundo e se afastou de mim mesmo contragosto.
Passou as mãos pelos cabelos em demonstração de sua frustração. Eu me recompus
e fiquei de pé, mantendo meus braços a minha volta em um gesto protetor.
- Me desculpa! – Pedi mais uma vez, envergonhada – Eu não
deveria ter deixado chegar a esse ponto, eu...
- Miley, o que aconteceria se ele soubesse que está aqui,
comigo? – Perguntou
- Sinceramente, eu não sei. Nunca contei a ele sobre você...
– Admiti – É o tipo de coisa que depois que você sabe, não dá mais pra não
saber e eu nunca quis magoá-lo...
- É, mentir com certeza é uma bela maneira de não magoar... - Retrucou
- Eu nunca quis mentir e eu não escolhi isso, ok? – Rebati –
O que queria que eu dissesse? Que eu tenho um ex-namorado que eu não consigo
esquecer, mas que está tudo bem, porque eu lhe fiz votos de fidelidade e lealdade
e sempre vou respeitar isso. Se fosse o contrário, você entenderia?
- Se fosse o contrário eu iria querer saber a verdade! –
Alegou – Mas acima de tudo eu iria querer que você fosse feliz. – Seu olhar
carinhoso e terno me fez sentir tão amada.
- Também quero que seja feliz! – Acariciei sua bochecha e os
seus cabelos. Ele repetiu os mesmos movimentos comigo.Parecia que ele estava tentando gravar cada mínimo detalhe
em meu rosto. Havia algo em seu olhar, algo que me comoveu.
Algumas vezes nós podemos ter a vaga noção se o que dissemos
teve algum impacto sobre alguém. Nick tentou disfarçar, mas eu vi a lágrima que
ele passou a noite inteira tentando conter finalmente deslizar em seu rosto e
ser imediatamente removida pela costa de sua mão.
O abracei uma última vez tentando memorizar seu cheiro e seu
calor. Respirei fundo, forçando-me a voltar ao aqui e agora, abandonando o
torpor que começava como um leve arrepio onde sua pele tocava a minha.
Se eu apenas não estivesse no aeroporto.
Se eu não soubesse nada dele.
Tudo na minha vida continuaria exatamente igual.
Só que eu o vi, o beijei e agora não era o suficiente.
Nunca seria o suficiente.
Todos esses anos eu havia me controlado para não ligar, não
o procurar e até reprimir os pensamentos sobre ele. Só que pra cada vez que eu
não lhe escrevia um e-mail, ou um sms, ou mesmo uma carta, era só mais uma vez
que eu quase fazia isso.
Eu agi certo sem querer e agora ele me diria adeus e levaria
um pedaço do meu coração.
Achei que o tempo iria tratar de apaga-lo suavemente.
Não houve grandes despedidas, nem nada muito relevante foi
dito depois disso. Ele apenas se desculpou por ter se “excedido” essa noite e
prometeu que não iria voltar a acontecer.
Voltamos pra nossas respectivas casas, nossas respectivas
vidas.
O que eu não daria pra esquecer você, Nick Jonas?
(...)
Não diga que é tarde demais para tentar
Pra fazer isso direito
Pra fazer tudo certo
Vou fazer isso direito...
Narrado por Nick
Depois de uma longa noite, era finalmente hora de encarar a realidade.
Por sorte o meu voo estava marcado para o turno da manhã, e eu poderia começar
a enfrentar a realidade bem longe daqui, em Londres.
Enquanto esperava o meu voo eu pedi um café e fiquei
respondendo alguns e-mails de trabalho e resolvendo coisas sobre o novo cd com
meu agente.
“Também quero que seja feliz!”
A lembrança dela me dizendo isso ficava voltando na minha
cabeça, por mais que eu tentasse afastá-la com trabalho.
Nunca em toda a minha vida tinha sido tão difícil ouvir
alguma coisa de alguém.
Como eu poderia conseguir ser feliz sem ela?
Ela ainda me amava, eu sabia que sim, mas qualquer um dos
meus esforços para tê-la novamente seria inútil, pois ela já havia seguido o
seu próprio caminho.
Ainda assim, eu não conseguia tirá-la da cabeça ou do coração.
Será que algum dia
seria capaz de esquece-la completamente?
Olhei algumas fotos em meu computador, da época em que
namorávamos. Ela era tão linda que chegava a doer e continua linda. Lembrei-me
de alguns momentos nossos e quis mais do que qualquer outra coisa o poder de
voltar no tempo...
Anunciaram o meu voo e eu guardei as minhas coisas, coloquei
meus óculos escuros. Saí da cafeteria e os meus fãs estavam ali no corredor que
levava a área de embarque, com cartazes, gritando meu nome. Distribuí alguns
autógrafos e tirei algumas fotos antes de seguir pelo corredor a dentro.
Avistei-a de longe com sua família. Ela e a filha deveriam
ter vindo receber o marido.
Lembrei-me de quando nos separamos há alguns anos. Ela foi embora e eu estava no meio de uma turnê. Não tive como cancelar tudo e vir atrás dela imediatamente, mas eu vim assim que a turnê acabou. Peguei o primeiro avião direto pra cá. Lembro de descer a rua e vê-la beijando esse cara em frente a sua casa. Fiquei morrendo de ciúmes e de raiva, mas pensei que eu não tinha direito de interferir.
O sorriso em seu
rosto parecia verdadeiro, assim como agora.
E eu fui embora...
Pouco tempo depois eu soube que ela se casou com ele e que estava grávida...
Eles se abraçaram e o cara pegou a Jollie no colo.
Todos os dias eu me arrependo de ter ido embora sem dizer nada aquele dia, exceto hoje.
"Ela foi a melhor coisa que já me aconteceu"
Os milhares de outras pessoas perambulando pelo corredor da
área de embarque me deixaram passar despercebido por eles.
E foi assim que eu lhe disse um silencioso adeus.
Soube que amava desde o primeiro beijo que trocamos, embora
naquela época eu não fizesse a menor ideia do quão intenso esse sentimento
viria a ser.
E provavelmente eu a amaria até o meu o meu ultimo dia na
terra.
Não havia nada que eu não faria por ela.
Até mesmo deixá-la seguir o seu próprio caminho.
Fim.